Lenda de Nanã
Nanã, a
deusa dos mistérios, é uma divindade de origem simultânea à criação do mundo,
pois quando Odudua separou a água parada, que já existia, e liberou do “saco da
criação” a terra, no ponto de contacto desses dois elementos formou-se a lama
dos pântanos, local onde se encontram os maiores fundamentos de Nana.
Senhora de
muitos búzios, Nana sintetiza em si morte, fecundidade e riqueza. O seu nome
designa pessoas idosas e respeitáveis e, para os povos Jeje, da região do
antigo Daomé, significa “mãe”. Nessa região, onde hoje se encontra a República
do Benin, Nana é muitas vezes considerada a divindade suprema e talvez por essa
razão seja frequentemente descrita como um orixá masculino.
Sendo a mais
antiga das divindades das águas, ela representa a memória ancestral do nosso
povo: é a mãe antiga (Iyá Agbà) por excelência. É mãe dos orixás Iroko,
Obaluaiê e Oxumaré, mas por ser a deusa mais velha do candomblé é respeitada
como mãe por todos os outros orixás.
A vida está
cercada de mistérios que ao longo da História atormentam o ser humano. Porém,
quando ainda na Pré-História, o homem se viu diante do mistério da morte, em
seu âmago irrompeu um sentimento ambíguo. Os mitos aliviavam essa dor e a razão
apontava para aquilo que era certo no seu destino.
A morte faz
surgir no homem os primeiros sentimentos religiosos, e nesse momento Nana
faz-se compreender, pois nos primórdios da História os mortos eram enterrados
em posição fetal, remetendo a uma ideia de nascimento ou renascimento. O homem
primitivo entendeu que a morte e a vida caminham juntas, entendeu os mistérios
de Nana.
Nana é o
princípio, o meio e o fim; o nascimento, a vida e a morte.
Ela é a origem e o poder. Entender Nana
é entender o destino, a vida e a trajetória do homem sobre a terra, pois Nana
é a História. Nana é água parada, água da vida e da morte.
Nana é o começo porque Nanã é o barro e
o barro é a vida. Nana é a dona do axé por ser o orixá que dá a vida e a
sobrevivência, a senhora dos ibás que permite o nascimento dos deuses e dos
homens.
Nana pode
ser a lembrança angustiante da morte na vida do ser humano, mas apenas para
aqueles que encaram esse final como algo negativo, como um fardo extremamente
pesado que todo o ser carrega desde o seu nascimento. Na verdade, apenas as
pessoas que têm o coração repleto de maldade e dedicam a vida a prejudicar o próximo
se preocupam com isso. Aqueles que praticam boas ações vivem preocupados com o
seu próprio bem, com a sua elevação espiritual e desejam ao próximo o mesmo que
para si, só esperam da vida dias cada vez melhores e têm a morte como algo
natural e inevitável. A sua certeza é a imortalidade da sua essência.
Nana, a mãe
maior, é a luz que nos guia, o nosso quotidiano. Conhecer a própria vida e o
próprio destino é conhecer Nana, pois os fundamentos dos orixás e do Candomblé
estão ligados à vida. A nossa vida é o nosso orixá.
É na morte, condição para o
renascimento e para a fecundidade, que se encontram os mistérios de Nana.
Respeitada e temida, Nana, deusa das chuvas, da lama, da terra, juíza que
castiga os homens faltosos, é a morte na essência da vida.
Características dos filhos de Nana
Burukú
Os filhos de
Nana são pessoas extremamente calmas, tão lentas no cumprimento das suas
tarefas que chegam a irritar. Agem com benevolência, dignidade e gentileza. As
pessoas de Nana parecem ter a eternidade à sua frente para acabar os seus
afazeres; gostam de crianças e educam-nas com excesso de doçura e mansidão,
assim como as avós. São pessoas que no modo de agir e até fisicamente aparentam
mais idade.
Podem
apresentar precocemente problemas de idade, como tendência a viver no passado,
de recordações, apresentar infecções reumáticas e problemas nas articulações em
geral.
As pessoas
de Nana podem ser teimosas e “ranzinzas”, daquelas que guardam por longo tempo
um rancor ou adiam uma decisão. Porém agem com segurança e majestade. As suas
reações bem equilibradas e a pertinência das suas decisões mantêm-nas sempre
no caminho da sabedoria e da justiça.
Embora se
atribua a Nana um caráter implacável, os seus filhos têm grande capacidade de
perdoar, principalmente as pessoas que amam. São pessoas bondosas, decididas,
simpáticas, mas principalmente respeitáveis, um comportamento digno da Grande
Deusa do Daomé.
Dia: Terça-feira
Cores: Anil, Branco e
Roxo
Símbolo: Bastão de
hastes de palmeira (Ibiri)
Elemento: Terra, Água,
Lodo
Domínios: Vida e
Morte, Saúde e Maternidade
Saudação: Salubá!
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